De um lado, mudanças hormonais e transformações no corpo; de outro, um ser em formação, carregado em potencialidades, mas que ainda precisa de cuidados especiais. Gestantes e crianças manifestam também na pele as particularidades de momentos tão especiais da vida.

Reunimos aqui algumas informações para ajudar a entender um pouco melhor tanto as características da pele dos pequenos quanto as mudanças pelas quais passam as futuras mamães do ponto de vista da dermatologia. Esse tema foi o foco da minha conversa com a jornalista Denise Luque no último Programa Consulta ao Doutor, levado ao pela pelo canal RIT TV, no final de setembro.

Na pele das gestantes

A ação dos hormônios que preparam o corpo para a gestação e o parto – que tanto impacta o aspecto emocional – também se manifesta (e muda) a pele.

Além das precauções básicas – como praticar exercícios físicos moderados, cuidar da dieta e controlar os níveis de estresse –, esse momento também pede especial proximidade com o médico dermatologista, responsável por avaliar, orientar e tratar de uma pele que passa por muitas mudanças e exige tratamentos (preventivos e curativos) especiais.

Mas o que muda tanto assim na pele das gestantes? Podemos começar pelo aumento da pigmentação. A pele da área dos mamilos, das aréolas mamárias, da região genital, da linha central do abdômen (conhecida como linha nigra), das axilas, da parte interna das coxas e até mesmo do rosto, pode ficar mais escura – e o mesmo vale para as cicatrizes e sardas. Isso ocorre com cerca de 90% das mulheres grávidas. Em princípio, nada para se preocupar: essa pigmentação regride naturalmente com o fim da gravidez.

As pintas (que chamamos de nevos) naturais do corpo também podem aumentar de tamanho e ficarem mais escuras durante a gravidez. Isso é natural. No entanto, ao notar qualquer modificação na cor ou crescimento ou o aparecimento de uma pinta nova é necessário procurar o dermatologista para fazer uma avaliação dermatoscópica e, se for o caso, proceder ao seguimento clínico.

O surgimento do chamado melasma (manchas em tons de marrom) também é característico desse período – e podem aparecer no rosto e em outras partes do corpo (em geral, a partir do quarto mês de gestação). O mais importante neste caso é a prevenção. E uma das formas é ficar atenta à fotoproteção – com uso de um fator de proteção solar de pelo menos 20 no dia a dia e ainda maior em casos de exposição mais intensa ao sol (praia ou piscina) – lembrando de sempre reaplicar o produto. E não esqueça também o guarda-sol, o chapéu e os óculos escuros.

Se o melasma já existia, os cuidados se intensificam: além de proteger-se do sol, é preciso trocar a medicação despigmentante normalmente usada por uma mais adequada ao momento. E novamente: é importantíssimo conversar com o seu dermatologista para tirar todas as dúvidas.

Outras mudanças – Esse momento também pode trazer um especial ressecamento da pele, mais intenso a partir do segundo trimestre de gravidez, e o surgimento de acnes e estrias. Para o tratar o primeiro problema, é importante evitar banhos muito demorados e quentes. O uso de hidratantes específicos também é importante, uma vez que a pele desidratada propicia o aparecimento de lesões de ressecamento – além de favorecer os pruridos (coceiras). E atenção: o hidratante não pode ter ureia na sua composição.

Já para as espinhas, procure produtos tópicos específicos para a pele da gestante. No consultório, é possível recorrer ao uso de luz de baixa intensidade e frequência, com efeito antibacteriano. Converse com seu dermatologista para garantir a adequação e a individualização do tratamento.

Por fim, no caso das temidas estrias, a hora é de prevenção. Vale hidratar diariamente a pele com produtos indicados para o período da gestação. Mas como a genética também influi, se as estrias aparecerem mesmo com todos os cuidados, há tratamentos pós gravidez que ajudam a melhorar o quadro.

Coisa de criança…

Não é preciso ser especialista para perceber que a pele dos bebês e das crianças é mais delicada que a de um adulto, e isso exige cuidados especiais e observação constante para prevenir e melhor tratar problemas – muitos deles ligados às próprias características da pele na infância.

Como dito antes, a pele de bebês e crianças é consideravelmente mais fina. Embora tenhamos o mesmo número de camadas na pele desde que nascemos; nos pequenos, essa composição é um quinto menos espessa.

Outra característica é que as glândulas que produzem suor e sebo são também menos ativas. Dessa forma, o chamado filme hidrolipídico (composto de uma mistura de transpiração e oleosidade) – e que forma uma camada protetora – tem uma atuação mais fraca.

A consequência é que a pele das crianças é especialmente sensível a influências químicas, físicas e microbianas – uma vez que elementos externos são absorvidos mais facilmente e conseguem penetrar camadas mais profundas.

A atividade das glândulas sebáceas segue menor até a puberdade, quando ocorrem as mudanças hormonais – por volta dos 12 anos. É nesse momento que passam a surgir as diferenças entre a estrutura e o comportamento da pele dos meninos e das meninas – até então iguais.

Cuidados especiais – Por conta de todas essas diferenças, a pele das crianças não pode ser tratada – nem em casa nem no consultório – da mesma forma que a dos adultos. E isso inclui produtos, procedimentos e hábitos – que aqui, claro, devem ser monitorados pelos adultos responsáveis.

Entre os cuidados especiais, destaque para o uso de loções e sabonetes suaves – os comuns, alcalinos, são agressivos às peles muito jovens, por removerem lipídios, causando ressecamento.

Atenção também ao tempo do banho, já que a água quente em períodos prolongados leva ao ressecamento. A dica é diminuir tanto o tempo quanto – na medida do bom senso – a temperatura.

E, para encerrar esse capítulo, redobre os cuidados com a fotoproteção – já fundamental mesmo nos adultos. A pele das crianças apresenta menor pigmentação e, por conta disso, há ainda maior sensibilidade aos raios UV. Mesmo com o reforço de um fator de proteção adequado, a pele da criança pode começar a queimar após cinco minutos de sol intenso. Protetores solares tidos como físicos são preferenciais e mais adequados para essa faixa etária.

Guarda-sol, chapéus, bonezinhos e muita “sombra e água fresca” ajudam a não estragar a brincadeira. E lembre-se: evite sempre o período entre 10h e 16h – o que vale também para mamães, papais, pequenos e grandinhos…

Brincar de maquiagem – O caráter lúdico do “se pintar” – o jogo, a fantasia –, desde que os produtos sejam inofensivos à pele dos pequenos (e que haja limites para o uso), pode render uma saudável brincadeira. O importante é equilibrar a balança que pesa os valores que se quer ensinar às crianças e o que elas desejam em cada momento da infância.

Hoje é possível encontrar no mercado diferentes produtos voltados para as crianças e que podem fazer parte da dinâmica de brincadeiras – ao lado de outras atividades, da leitura, dos períodos ao livre. Tudo é uma questão de equilíbrio.

Por isso, atenção na hora de escolher o que deixar ao alcance da criançada. As maquiagens para adultos – ou mesmo as feitas para bonecas – não podem ser utilizadas, que já contém corantes, fixadores e outras substâncias químicas que podem causar reações alérgicas.

Uma dica é procurar sempre pelo selo de aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Ele garante – entre outros pontos – que se tratam de produtos fáceis de serem retirados com água. Além disso, é importante que as composições se restrinjam a ingredientes atóxicos e hipoalergênicos. Já os rótulos devem possuir indicações de segurança específicas, incluindo a de faixa etária.

Isso vale para batons, blush, gloss, brilhinhos e até esmaltes – que devem sempre serem feitos à base de água (para evitar a necessidade do uso de acetona ou removedor). Rímeis e lápis, mesmo se vendidos como “próprios para crianças”, devem ficar longe para evitar acidentes. E uma dica: não tire a cutícula das crianças, essa “pelezinha” é que protege a unha de bactérias e fungos e fixa melhor a unha na pele.

Dermatite de contato

Inflamação que ocorre quando a pele entra em contato com uma determinada substância, a dermatite de contato é comum em qualquer faixa etária, inclusive em crianças. Existem estudos demonstrando a importância clínica do problema nos pequenos, mesmo que, em geral, eles não fiquem tão expostos quanto os adultos a substâncias alergênicas – que provocam uma resposta do sistema imunológico que afeta a pele – ou irritantes, que causam reações na superfície da pele.

Em consultório, o que se observa é que as formas mais comuns do problema acontecem no contato a borracha e o látex; perfumes e cosméticos; sabonetes; couro; lãs e tecidos sintéticos, bijuterias (especialmente as feitas de níquel, cromo e cobalto) e mesmo peças de ouro e prata. Além de alguns medicamentos (antibióticos, entre eles).

Os sintomas da dermatite de contato geralmente são vermelhidão, coceira intensa e ardor. A pele irritada pode produzir pequenas bolhas e apresentar rachaduras. A lesão geralmente fica restrita à área da pele que entrou em contato com a substância irritante.

A grande maioria dos casos desaparece em alguns dias, desde que seja evitado o contato com a substância que causou a irritação na pele. Loções de uso tópico a base de calamina podem aliviar os sintomas. Os casos de reação mais intensa requerem uma avaliação clínica dermatolólogica, com tratamento mais específico.